Este não é um grupo de rock. Esta é uma das bandas mais estranhas do planeta e continuam no activo. É OBRA. The Residents fazem um tipo de som que não merece classificação.
Muita especulação sobre as verdadeiras identidades dos membros e em torno da sua equipa de gestão, conhecida como “A Cryptic Corporation. A Cryptic foi formada como uma corporação na Califórnia por Jay Clem, nasceu 1947, Homer Flynn nasceu 1945, Hardy W. Fox nasceu 1945 e John Kennedy, em 1976, os quais negaram ter sido membros da banda. Clem e Kennedy deixaram a Cryptic em 1982, muito para o desgosto de alguns fãs. Residentes não concedem entrevistas, embora Flynn e Fox realizaram entrevistas com a imprensa.
Nolan Cook, um colaborador destaque do grupo ao vivo e em estúdio, além de ser um membro ao vivo da banda I Am Spoonbender, negou em entrevista que Fox e Flynn são os Residents. No entanto, Cook foi considerado membro da banda, conhecido por usar as mesmas coberturas na cabeça que o resto do grupo durante os shows ao vivo, e vestindo a máscara do olho durante a Wormwood tour.
William Poundstone, autor de livros Big Secrets, compara com a voz de uma palestra de Flynn com aqueles segmentos de spoken word da discografia da banda no seu livro Big Secrets. Após observar padrões similares em ambos, ele concluiu que “as semelhanças no spectograms segundo a impressão subjetiva é convincente, as vozes são idênticas.” Ele postulou “é possível que o núcleo criativo dos Residents é o duo Flynn e Fox.” Um subconjunto da crença é que Flynn é o letrista e Fox escreve a música.
Em 1974 lançaram o primeiro disco Meet The Residents e a Capitol ficou furiosa com a capa do disco, faziam uma versão grotesca do disco Meet The Beatles.No mesmo ano, o grupo começa a gravar Not Available, que ficaria quatro anos guardado, apenas lançado em 1978, sem motivo aparente.Em 1976 lançam mais um disco polémico, Third Reich ‘N’ Roll, uma sátira ao nazismo, mostrando Hitler (representado pelo actor e cantor Dick Clarke) segurando uma cenoura.
Eskimo é um dos discos mais estranhos já feitos e de uma concepção surreal.
Eskimo é dividido em seis temas: “The Walrus Hunt”, “Birth”, “Artic Hysteria”, “The Angry Angakok”, “A Spirit Steals A Child” e “The Festival Of Death”.
Relata a vida solitária e difícil dos esquimós e as músicas são tensas, assustadoras. Os genuínos ruídos dos esquimós são acompanhados de vozes guturais, percussão, eletrónica, tambores marciais e uma pequena história que conta o conceito em cada faixa. É um disco totalmente angustiante, mas o resultado não deixa de ser brilhante.
Todo projeto levou mais de três anos para ser concluído – começou em abril de 1976 e só terminou em maio de 1979. E contaram com a ajuda do percussionista Chris Cutler (Henry Cow), Don Preston e Snakefinger nas gravações.
“Norte da Groenlândia, encravada no Círculo Ártico e cercada pelo Pólo Norte, é a casa de uma tribo nómada de descendentes mongóis conhecidos como esquimó. A cultura deles é passada através de gerações em forma de histórias orais e cerimonias musicais. O disco tenta recriar não apenas essas cerimónias musicais, mas todo o seu contexto de vida e existência, em formato de histórias dos esquimós. Embora, no disco elas sejam puramente sonoras, há uma pequena parte escrita que ajudará ao ouvinte a compreender melhor essa história única.
Para a máxima diversão, o disco deverá ser ouvido com fones no ouvido enquanto você lê o que está ouvindo. Eskimo deve ser tocado inteiramente. Uma sensação de relaxamento é essencial. Roupas quentes ou cobertor ajudarão muito a entrar no clima.
“The Walrus Hunt” relata a busca pelo alimento, quando os esquimós caçam morsas nos caiaques. A caçada é sempre difícil por causa da neve e do gelo o que torna a busca extremamente perigosa, em parte devido ao whiteout, um fenómeno óptico das regiões polares que impede qualquer orientação visual. A faixa capta alguns sons do animal, que muitas vezes é a única pista para encontrá-lo no meio do mar. A faixa mostra a procura, a caça e os esquimós felizes pelo sucesso da missão.
“Birth” é um pesadelo, especialmente para as mulheres. Ela descreve a pouca importância do sexo feminino numa tribo esquimó. Como a figura mais importante na tribo é a do caçador (geralmente homens), a menina quando nasce deve ser morta caso não haja um menino ‘solteiro’ na tribo, pois sua função será apenas a de cozinhar, costurar e curtir o couro para ele! Por isso, ser mulher é um drama. Segundo o texto, a mulher é obrigada a se mudar para uma caverna de gelo quando sente que dará á luz. Antes, de ir, uma banda começará a tocar músicas para felicitar o nascimento e as outras mulheres cantarão, na tentativa de confortá-la e então, ela parte, sozinha, onde ficará isolada dos demais até nascer a criança. Apesar de sentir medo, ela sente-se segura. Os homens tocam kooa e cantam para o nascimento do novo membro do sexo masculino. Dentro da caverna, ele avança até encontrar os Angakok, que começam a rezar até a criança nascer. Após isso, as mulheres pegam na mãe e na criança, que tem seu ventre tocado para que elas saibam se é menino ou menina. Imediatamente uma outra mulher sai cantando da caverna e toca um sino avisando a todos e a criança é carregada.
“Artic Hysteria” fala de um fenómeno que ocorre com o final do inverno e que acomete as mulheres. As seguidas semanas de total escuridão e perda dos sentidos, às vezes ocasiona uma grande depressão. As mulheres começam a cantar ao lado do seu iglo calmamente enquanto batem com a neve nos casacos de pele dos maridos. O canto começa a gerar um medo do vazio cada vez maior. Quando isso acontece, os homens da tribo fazem um círculo à sua volta e entoam cantos para sua libertação, até que ela saia do “transe” e continue a bater no casaco do marido como se nada tivesse acontecido.
“The Angry Angakok” fala do curandeiro (angakok), aquele que detém todos os poderes e sabedoria. Deles se contam várias lendas dentro da tribo. Se um deles morre, os caçadores cortam os tornozelos e dedos e colocam-nos dentro da boca do morto, como forma de proteção do seu espírito.
“A Spirit Steals A Child” fala de um mistério nunca solucionado: o roubo de crianças. A mitologia conta que as crianças são roubadas por um espírito choroso, metade mulher, metade foca, que por não poder dar a luz roubas as crianças desprotegidas.
A última faixa, “The Festival Of Death” narra o Festival da Morte, o maior evento da tribo. Mais do que um tributo à morte, o festival marca o nascimento do ciclo anual que determina o final dos seis meses que passam no escuro.
O disco encerra dizendo que as histórias são narradas no tempo passado porque hoje eles foram “salvos” pelo homem branco da sua “vida miserável” na década de sessenta e vivem agora em casas cedidas pelo governo e ficam assistindo televisão o dia todo. Uma típica ironia do grupo.
A versão em cd traz um bônus: quatro faixas do projeto “The Replacements” que fazem parte da coletânea Subterranean Modern, lançado no mesmo ano de Eskimo.
Apenas uma curiosidade: A palavra “esquimó” para designar essa população surgiu de um mero acaso. O primeiro homem branco a entrar em contacto com uma tribo depois de se apresentar fez um gesto tentando pedir uma identificação, fez apontando em direção ao grupo e eles responderam com a palavra “esquimó” que significa “nós”. Na verdade eles se auto denominam “inuit” que significa simplesmente “homem”. Isso porque os inuits achavam que eram os únicos homens a habitar a Terra.