DAVID SYLVIAN

WAAADavid Sylvian / Stephan Mathieu “Wandermüde” 2012.

Remixes serve um par de funções na produção David Sylvian no pós-2000. Primeiro, extrai um pouco de quilometragem extra a partir de material já existente, o que provavelmente é muito útil quando apenas lançou dois álbuns a solo numa década. Segundo, são um osso conciliatório para os fãs que provavelmente prefeririam ouvi-lo reformar os seus velhos dias de glória com os Japan ou as suas colaborações com Robert Fripp do que o seu recente trabalho com membros da AMM e Polwechsel, mas temos de nos contentar em ouvir as novas músicas, difíceis e adaptadas com alguns teclados ou uma batida constante.

Wandermüde não se encaixa nesse molde. Surgiu após Sylvian dar os instrumentais do seu Blemish, 2003, para o musico alemão Stephan Mathieu processar em acompanhamento ambiental num aplicativo para o iPhone.

Sylvian decidiu entregar as partículas sonoras de “Blemish” a um dos músicos que melhor trataria delas: Stephan Mathieu um dos mais interessantes estetas da reconversão electrónica, trabalhando muitas vezes em regime electroacústico, partindo de sons naturais e analógicos. O convite parecia mais que justificado retrabalhar “Blemish” para ser uma banda sonora de uma aplicação da Samadhi para iPad. Mas o trabalho de Mathieu acabaria por ser tão rico e inventivo que “Wandermüde” teve que existir como um álbum. Depois de um concerto no festival Punkt em que o alemão remisturou um concerto de Sylvian – “Plight And Premonition”, em 2011.

Blemish já é um destaque na discografia de Sylvian. Ele fez isso com a maioria por conta própria quer utilizando os seus proprios improvisos de guitarra ou lhe enviar pelo correio contribuições de Derek Bailey e Christian Fennesz, como instigações ou oposições a algumas das letras mais pessoais que ele já escreveu.

Mathieu não toca as faixas de Bailey, mas algumas de Sylvian e partes de Fennesz, através os tratamentos de software, que têm uma qualidade de improvisação própria. Ele estabelece um processo, passa o material para ele e, depois, mantém ou “estraga-o”. A forma como ele simultaneamente faz, soa como algo que se ouve num álbum dos Yo Tengo La – não é algo a esperar de Sylvian, mas não inteiramente fora da órbita de Mathieu, uma vez que ele já fez um remix drasticamente transformador dos YLT “Danelectro”. Em outros temas as coisas ficam mais celestiais.

Mathieu muitas vezes depende da entrada de outras pessoas para colocar cálcio na espinha da sua música, e ele encontra a comida e estuda o suficiente as “reverb-heavy twangs” de Fennesz e Sylvian.